quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Ensaio sobre um pesadelo



Hoje de noite sonhei que me deslocava numa versão de uma cidade como a do Sin City. No meu caso, as diferenças eram apenas duas: 1 - a cidade era a cores (apesar de pouco mais animada, já que os tons eram de podre e sujidade); 2 - todas as pessoas sorriam (umas eram conhecidas, outras perfeitas estranhas).

Deslocava-me nessa cidade com um sorriso falso. Parecia haver uma regra (e não me perguntem o porquê) que eram proíbidas as memórias tristes. Procurava uma pessoa que não sorrisse para conversar sobre coisas que não fossem alegres. Mas sabia que todas essas pessoas que sorriam tinham o poder de me apagar memórias selectivamente e de me deixar com um sorriso idiótico igual ao deles (como aquela personagem de Heroes, o homem do Haiti).


Evitava as conversas com todas as pessoas sempre que possível. As pessoas faziam cada vez perguntas mais inquisitivas por suspeitarem do meu sorriso falso. Procurava então cada vez mais uma pessoa neutra com quem falar com sinceridade e poder recuperar forças para manter o meu sorriso falso.

De repente, encontrei o meu reflexo numa montra de uma loja reles de electrodomésticos. Pensei para comigo que a solução passava por falar com o meu reflexo, porque ele conseguiria entender-me. Mas, cheguei à conclusão que não podia fazer isso... assim que verbalizasse esses pensamentos não alegres, eu próprio me apagaria a mim mesmo a memória. Afinal de contas, não era diferente dos outros, apenas hipócrita.
Pregava a mim mesmo na minha cabeça uma superioridade moral por aceitar que todas as minhas memórias, boas ou más, me definiam enquanto pessoa. E na realidade, estava tão capaz de as remover como qualquer outra pessoa.

Por fim, cansado de evitar o assunto, encontrei uma pessoa estranha, com um ar neutro. Não pensei duas vezes...
Assim que saiu a 1ª sílaba dos meus lábios, começou a ficar tudo escuro. Tinha sido apanhado! Concentrei-me ao máximo e enquanto tudo escurecia, ia pensando com toda a força no que tinha vivido até aí.

Depois acordei assustado... e o meu primeiro pensamento foi "Será que ainda me lembro de tudo?"

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